Dá pra dizer que Jason Isaacs está vivendo um ano particularmente fashion.
Em fevereiro, o diretor criativo da Burberry, Daniel Lee, escalou o ator de 61 anos para sua primeira campanha como modelo. Agora, ele troca a folha de chamadas do set por convites de primeira fila — encerrando uma viagem em família pela Toscana com uma passada estratégica no desfile da Giorgio Armani em Milão.
É justo dizer que Isaacs está em alta. Ele já teve muitos momentos ao longo da carreira — com papéis icônicos em Harry Potter, na série The OA, da Netflix, entre muitos outros —, mas voltou aos holofotes neste ano ao interpretar Timothy Ratliff, o patriarca poderoso e à base de Lorazepam durante sua estadia conturbada na unidade tailandesa do The White Lotus.
Depois veio O Caminho do Sal (The Salt Path), filme independente baseado no livro de Raynor Winn, que narra a história real de um casal que percorre a pé 630 milhas ao longo da costa da Cornualha. O longa arrecadou 1,4 milhão de libras no fim de semana de estreia e, em alguns dias, superou Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um e Ballerina nas bilheteiras desde sua estreia no fim de maio.
“É um lembrete animador de que, quando se conta uma boa história, não importa se há explosões ou orçamentos gigantescos”, diz Isaacs. “No fim das contas, o que importa são histórias humanas.”
Com seu repertório fashion crescendo, a Esquire perguntou a Isaacs sobre estilo pessoal, roupas de viagem — e como foi desfilar ao lado de Naomi Campbell.
A entrevista foi editada por clareza e concisão.
Você sempre leva uma raquete?
Sou jogador de tênis, então levo uma raquete e roupas pra jogar — tênis, shorts, camisetas. Espero que isso não pese demais na mala. Sempre levo duas sungas, porque uma vai estar molhada e você pode querer usar a outra. Mas, na prática, não importa muito — minhas filhas roubam tudo. Roubam minhas cuecas, camisetas, essas roupas largas todas.
Esse é o sinal de um guarda-roupa desejável.
Engraçado você dizer isso, porque agora eu tenho um, de fato. Desde The White Lotus, ganhei tanta coisa… Meu armário antes era praticamente vazio, e agora está cheio de ternos e roupas incríveis. Minha esposa adora a transformação — e implora pra eu continuar me vestindo assim. Mas quando morávamos na Califórnia, ela percebeu que o motivo de eu gostar tanto de viver lá era porque eu queria me vestir como skatista até morrer. Fui skatista profissional aos 14, 15 anos, e nunca superei totalmente isso. Então essa é minha nova fase. Não sei se vai durar. Tenho agora um monte de ternos lindos — e me sinto desconfortável com eles. Sei que a gente fica melhor vestido assim, mas minha roupa ideal é roupa de pandemia: moletom e camiseta velha.
Um filme que você acha realmente estiloso?
Um que me vem à cabeça é A Sra. Harris Vai a Paris (Mrs. Harris Goes to Paris), porque gira em torno da Dior e da moda. Mas eu atuo nesse filme, então talvez seja um pouco vaidoso demais da minha parte dizer isso.
Eu amo O Poderoso Chefão (The Godfather) — aquela época, aquelas roupas e os ternos extraordinários. Evocam um tipo de masculinidade e de refúgio que muita gente busca. Até as roupas casuais do Michael quando ele vai pra Sicília — aqueles ternos folgados! Há algo nos homens daquela época: os chapéus, os trajes mafiosos, o jeito como se jogavam nas roupas que não puderam usar durante a guerra… As formas, os cortes, tudo aquilo ainda não voltou de verdade, apesar da moda ser cíclica. Não me lembro de uma época recente em que os homens tenham se vestido como nos anos 1940.
O figurino ajuda você a entrar no personagem?
Tanto pra mim quanto pra qualquer ator. Figurino é uma das ferramentas que usamos pra comunicar ao público, de forma visual e direta, de onde aquele personagem vem. Um dos motivos de eu estar aqui, nesse desfile da Giorgio Armani, com certeza é The White Lotus. Você entendia muito daqueles personagens só pelo que eles vestiam. A Alex [Bovaird] fez o figurino, e ela é brilhante nisso — traduz com clareza e precisão o universo de cada um. Tanto que está sempre sendo indicada ao Emmy. Você quase nem precisava saber de onde vinham — já dava pra perceber só pelas roupas no barco, no primeiro episódio. A gente faz suposições, e o roteiro genial do Mike White subverte essas expectativas.
As camisas que você usou em The White Lotus fizeram sucesso.
Eu adoro linho, porque sou uma pessoa naturalmente amarrotada — então gosto de roupas que também possam estar amarrotadas sem parecer que fui negligente. Muita gente usa camisa, mas há dois tipos de pessoas: as que colocam por dentro da calça e as que não colocam. Eu sou do time que não coloca — e o linho funciona bem assim. Não sou muito fã das cores pastel, porque chamam atenção demais e me deixam parecendo todo mundo com quem já joguei golfe na Carolina do Norte. Mas sim, amo roupas de linho. Gosto de jaquetas leves. Não gosto de nada estruturado demais.
O que você acha que uma peça da Giorgio Armani diz sobre quem a veste?
Que a pessoa tem estilo de forma inevitável e sem esforço. É diferente de quem precisa chamar atenção, fazer um grande statement pra ser notado. A estética da Armani transmite elegância como se fosse algo natural, como se a pessoa nem tivesse pensado muito a respeito. Vem do instinto.
No começo do ano, você desfilou pela primeira vez — para a Burberry. Como foi essa experiência?
Sou um colecionador de experiências novas. Como ator, quero entrar em mundos diferentes sempre que posso, e guardar essas vivências como material. O universo da moda era um que eu não conhecia. Então tudo foi fascinante: o que estavam fazendo, por quê, como queriam que nos apresentássemos como modelos, toda a estrutura social dos bastidores, a hierarquia profissional… Achei tudo envolvente. E o talento técnico por trás das roupas também é impressionante — não só o Daniel [Lee], como diretor criativo, mas toda a equipe que realmente faz as peças.
E eu estava desfilando na frente da rainha das passarelas, Naomi Campbell. Tivemos uma conversa longa e ótima — e aproveitei pra sondar a cabeça dela, do mesmo jeito que já fiz com soldados, policiais, políticos, criminosos, padres, cirurgiões plásticos… Tive a chance de passar um tempo com uma das maiores supermodelos do mundo e descobrir o que ela pensa sobre tudo isso.
E qual foi o conselho que ela te deu sobre a passarela?
Se eu fosse indiscreto o bastante pra sair contando o que as pessoas me confidenciam, duvido que continuaria sendo convidado pra entrar nesses mundos.
Esta matéria foi originalmente publicada na Esquire UK.