Com o avanço da medicina preventiva, o interesse por estratégias que ajudem a frear o envelhecimento é proporcional ao aumento da expectativa de vida. Isso envolve não apenas evitar rugas e marcas de expressão, como também preservar a juventude de dentro para fora, com uso de suplementos e hormônios. Mas até que ponto esses tratamentos são realmente eficazes e seguros?
Adicionar o que falta
Com o passar dos anos, o organismo sofre mudanças hormonais, metabólicas e estruturais que impactam diretamente a saúde física e, como consequência, a nossa aparência. É nesse contexto que alguns suplementos têm despontado como aliados da vitalidade e da prevenção de doenças.
Se há alguns anos a substância mais comentada pelos adeptos de tratamentos anti-idade era o resveratrol, antioxidante presente no vinho tinto, a bola da vez é a creatina. Popular entre quem treina, por favorecer o desempenho em exercícios de alta intensidade e curta duração, esse aminoácido tem se mostrado útil para evitar a perda de massa muscular relacionada à idade e melhorar certas funções cognitivas, como memória, atenção e processamento de informações.
O nutricionista Leonardo Negrão, docente de pós-graduação em Nutrição, Saúde Mental e Performance do Inades e Doutor em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP, conta que outro suplemento bem conhecido ganhou uma aura “antiaging” recentemente: o ômega 3.
Ele conta que um estudo recente com 777 idosos, publicado em Nature Aging, mostrou que a suplementação diária com 1 g de ômega 3 pode desacelerar o envelhecimento biológico em até 2,9 a 3,8 meses ao longo de 3 anos de suplementação, com base em marcadores epigenéticos validados. “O efeito é ainda mais expressivo quando combinado com vitamina D e atividade física”, comenta.
A médica nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), destaca que, embora nenhum suplemento seja capaz de impedir o envelhecimento, há evidências robustas de que determinados compostos podem atenuar seus efeitos mais danosos, especialmente quando aliados a bons hábitos de vida.
Conheça os principais suplementos com potencial antienvelhecimento, segundo estudos recentes:
Creatina: além de melhorar força e cognição (principalmente memória, velocidade de processamento de informações e tempo de foco) em idosos, pode ter efeito protetor contra a perda muscular e, ainda, ajudar a reduzir a fadiga.
Coenzima Q10: ajuda na produção de energia celular e tem efeito antioxidante. Com a idade, seus níveis caem e estudos sugerem que sua reposição pode melhorar a função cardíaca, reduzir o estresse oxidativo e até modular a expressão gênica ligada ao envelhecimento.
Resveratrol: polifenol presente na uva e no vinho tinto, atua na ativação das sirtuínas, proteínas associadas à longevidade e à proteção celular. Estudos em animais são promissores, embora em humanos os dados ainda sejam preliminares.
Ácido alfa-lipoico: antioxidante potente que colabora com a regeneração de outros antioxidantes no organismo, promovendo a saúde das mitocôndrias (organelas responsáveis pela produção de energia nas células).
Vitamina D: fundamental para os ossos, músculos e sistema imunológico, sua deficiência é comum após os 40 anos e está relacionada ao aumento de doenças autoimunes e degenerativas.
Ômega 3: presente nos peixes gordurosos e em certas sementes, é conhecido por seu efeito anti-inflamatório, e especialmente relevante para a saúde do cérebro, coração e olhos. Esse efeito é ainda melhor quando combinado com a vitamina D.
Astaxantina: um carotenoide poderoso presente em organismos como as algas marinhas que combate os radicais livres e protege a pele e os olhos contra o envelhecimento precoce.
Precursores de NAD+: moléculas que o organismo usa para produzir a Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo, uma coenzima envolvida na renovação celular e na eficiência energética das células.
Prescrição individualizada
“Esses suplementos não são milagrosos, mas podem ser aliados importantes quando bem indicados”, frisa a nutróloga. O grande erro, segundo ela, é recorrer a essas substâncias sem orientação médica, prática comum entre os ávidos para “reverter o tempo” por conta própria. Nutróloga e nutricionista alertam que o uso inadequado — especialmente em doses elevadas ou combinado com certos remédios — pode gerar efeitos colaterais perigosos. Doses elevadas de vitamina D, por exemplo, podem sobrecarregar os rins. O resveratrol em excesso afeta o fígado. Já o ômega-3 pode interferir com medicamentos para afinar o sangue. Por isso, o caminho mais seguro é a avaliação médica individualizada e acompanhamento contínuo. Afinal, nem todo mundo precisa dos mesmos suplementos. A dose certa, o tipo de composto e a duração do uso dependem do perfil metabólico e clínico de cada pessoa.
E quanto aos hormônios?
Outro tema que gera interesse entre quem busca um envelhecimento saudável é a reposição hormonal. Afinal, tanto a queda mais gradual nos níveis de testosterona, nos homens, como a redução mais brusca no estrogênio, nas mulheres, tem impacto massa muscular e óssea, bem como a disposição e o desejo sexual.
A endocrinologista Dolores Pardini, representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP), é enfática ao dizer que, quando bem indicada e monitorada, a reposição hormonal pode ser uma importante aliada no combate aos efeitos do envelhecimento.
“O homem deve repor a testosterona quando há um diagnóstico de hipogonadismo, ou seja, a diminuição da produção de testosterona pelos testículos, acompanhada de sintomas como cansaço, mau humor, sintomas depressivos e alterações importantes que impactam diretamente a qualidade de vida”, explica a médica.
Na mulher, a menopausa sem reposição, em muitos casos, leva à perda de massa óssea, a fogachos que impedem o descanso e comprometem os níveis de energia. “A mulher acorda cansada, indisposta para o trabalho e para as tarefas do dia a dia”, afirma. Assim, desde que haja indicação correta, a reposição de estradiol pode proteger contra doenças cardiovasculares, evitar o ganho de gordura abdominal e impedir o ressecamento da pele e das mucosas, além de melhorar a disposição. Mas as médicas ressaltam que a reposição hormonal não deve ser encarada como fonte da juventude. O tratamento só deve ser realizado quando há um diagnóstico bem estabelecido, com avaliação laboratorial e acompanhamento regular, para evitar riscos como o crescimento de tumores hormônio-dependentes.
Nada substitui bons hábitos
Não há dúvidas de que os avanços na medicina oferecem ferramentas promissoras para quem deseja envelhecer com saúde e vigor. Suplementos e reposição hormonal, quando usados com sabedoria e critério, podem ser partes importantes desse planejamento.
Mas as especialistas são unânimes: nenhuma pílula, gel ou injeção substitui um estilo de vida saudável, com atividade física regular, controle do estresse, exposição solar de forma segura, sono reparador e alimentação rica em vegetais, grãos e proteínas magras. “A ideia é somar estratégias, nunca compensar maus hábitos com cápsulas”, conclui Marcella Garcez.