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Grande mudança: o que vimos no Salão do Automóvel

Após sete anos, o evento volta a acontecer em um mercado em plena transformação em que a chegada de novas marcas e as tecnologias de eletrificação e conectividade estão transformando a relação com os carros

Em 2018, quando aconteceu a última edição do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo antes de um hiato de sete anos, o mercado automotivo brasileiro era muito diferente. Carros elétricos ainda eram novidade e os primeiros modelos começaram a ser apresentados ao setor. Modelos híbridos eram restritos a fabricantes com foco no luxo. Os chineses tinham participação discreta, representados por marcas como a Lifan. E os SUVs já começavam a ganhar força, mas ainda havia espaço para hatchbacks e sedãs. Agora, em 2025, o retorno do Salão, maior evento automotivo da América Latina, marca um momento diferente. Há uma frota crescente de elétricos e híbridos rodando pelas ruas do país, uma quantidade expressiva de marcas chinesas acelerando o lançamento de produtos no Brasil e uma preferência clara pelos SUVs. Sete anos mudaram completamente o mercado.

Tanto que houve quem não acreditasse que o Salão voltaria. Quando a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e a RX, empresa responsável pela organização, bateram o martelo e os preparativos começaram a ganhar velocidade, a saída de algumas fabricantes tradicionais e a confirmação em peso de marcas chinesas fez outros questionarem se haveria interesse do público. Mas o evento aconteceu, atraindo 516 mil visitantes durante 10 dias – mais do que o esperado. E os organizadores já confirmaram que a próxima edição vai acontecer em 2027.

 

Avatr 11, da Changan (Divulgação)

 

Quem passeou pelos estandes montados no Anhembi sentiu falta de alguns nomes importantes. Fabricantes tradicionais, como Volkswagen, Chevrolet e Ford, que estiveram presentes em 2018, não participaram do retorno do Salão. As principais marcas de luxo, como Land Rover, Porsche, Volvo, Audi, BMW e Mercedes-Benz, também não estavam presentes, assim como as italianas Ferrari e Lamborghini. Quem foi ao Salão em busca de carros dos sonhos precisou se contentar com as preciosidades expostas por dois museus, o Carde, de Campos do Jordão, e o Dream Car, de São Roque, que levaram clássicos como o DMC DeLorean modificado da trilogia “De volta para o futuro” e a impressionante Ferrari F40. 

Como é costume no evento, foram revelados vislumbres do futuro por meio de conceitos, carros que não serão produzidos comercialmente, mas que revelam a visão particular de cada fabricante para o amanhã. É o caso do Inception, um dos mais impressionantes exibidos no Salão. Elétrico e autônomo, substitui o volante por um joystick inspirado em videogames e adota bancos e painel em ângulos retos. 

 

Peugeot Inception (Divulgação)

 

Algumas marcas trouxeram modelos vendidos apenas em outros mercados como forma de testar a receptividade do consumidor. A Ram, por exemplo, apresentou versões extremas de suas picapes full-size, a 1500 RHO, projetada para o off-road extremo, e a 3500 Mega Cab Dually, com cabine mais espaçosa e rodas traseiras duplas que permitem o reboque de até 15 toneladas.

 

Ram 3500 MegaCab Dually (Divulgação)

 

Outras apostaram em revelar seus lançamentos da forma com pompa e circunstância. A Jeep mostrou publicamente pela primeira vez o Avenger, modelo de entrada que será fabricado no ano que vem, de modo espalhafatoso: entrando com o carro em uma vidraça. E replicando, assim, o já histórico lançamento da Cherokee no Salão de Detroit de 1992, quando o mesmo recurso foi usado. Na época, a ideia era mostrar que um SUV podia ser luxuoso sem perder a robustez. 

 

(Divulgação)

 

Quem roubou a cena, no entanto, foram as marcas chinesas. A BYD lançou a Denza, sua marca de luxo criada em 2010 em parceria com a Mercedes-Benz, e apresentou os três primeiros modelos que chegarão ao país, como a perua esportiva Z9 GT. A Caoa confirmou a chegada do Avatr 11, modelo sofisticado da marca Changan que será oferecido no país com alto nível de personalização, como acontece com a alemã Porsche. E outras fabricantes, como Geely, Omoda/Jaecoo e a recém-chegada MG Motor aproveitaram a oportunidade para serem conhecidas pelo público. “O Salão do Automóvel serve para fixar marcas na cabeça dos consumidores brasileiros”, afirma o consultor automotivo Milad Kalume Neto, da K.Lume. “Apesar de ausentes, todos conhecem Volkswagen, Ford ou GM, mas certamente muitos poucos conhecem Changan ou Denza”, completa. 

 

Denza R9 GT (Divulgação)

 

Trata-se de um fenômeno global. “Esse Salão acontece em uma nova era da indústria automobilística global”, diz o consultor Oswaldo Ramos Jr., da Bright Consulting. “Não só a chegada de novas marcas, mas as tecnologias de eletrificação, conectividade e direção semi autônoma mudam completamente a relação do ser humano com os carros”. Nesse cenário competitivo de inovação, a China tem as ferramentas para levar a melhor. E as fabricantes tradicionais precisam se cuidar.

Divulgação