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O que eu aprendi: Zegon

Com skate no pé e muita imaginação na cabeça, ele criou o Tropkillaz e já fez parcerias com Anitta e Criolo

Produtor e DJ de mão cheia, referência nas pistas e no estúdio, Zegon (José Henrique Castanho de Godoy Pinheiro) tem uma linha do tempo cheia de balanço. Com um skate no pé e muita imaginação na cabeça, ele começou a carreira embalado pela cena de hip-hop de São Paulo dos anos 1980.

Ao acompanhar o Planet Hemp na década seguinte, ganhou exposição e também alguns dias na prisão após uma “dura” da polícia na banda, pioneira no discurso pela descriminalização da Cannabis.

O primeiro voo internacional foi em 2009, com o N.A.S.A., parceria com o também DJ e produtor Sam Spiegel, dos EUA.

Mas os holofotes vieram mesmo com o Tropkillaz, ao lado do produtor curitibano Laudz. A elétrica mistura de hip-hop e funk do grupo rendeu parcerias com estrelas como Anitta, Criolo, Ludmilla e Liniker. O Tropkillaz assinou também a trilha da série Sintonia, exibida na Netflix.

Mais recentemente, uma música do grupo, “Someday”, foi usada em uma campanha da Apple, que botou o ator Pedro Pascal para dançar funk. Enquanto segue em busca da partida perfeita, Zegon — que mora em São Paulo, de onde falou com a Esquire Brasil — flerta com o k-pop e prepara o lançamento do primeiro álbum do Tropkillaz. “Vai sair este ano, esperamos.”

 

Zegon (Foto: Fernando Mendes)

 

Confira o relato de Zegon à Esquire Brasil:

Sou de Touro. Dizem que as pessoas desse signo são teimosas, gulosas e gostam de conforto. Acho que bate.

Minha mãe me despertou o interesse pela música. Em casa, a gente tinha toca-discos e gravador de rolo. Ela fazia mixtapes, cortava e colava a fita. Eu nem alcançava a mesa, mas ficava super curioso com tudo aquilo.

Ando de skate desde a adolescência. Mas não mais como antigamente. O chão ficou mais duro. Não posso me quebrar.

Meu queixo caiu na primeira vez que vi o DJ Hum tocar. Quando ele começou a fazer scratches, vi que era aquilo que eu queria pra mim.

Um disco que marcou minha vida foi o Into the Dragon, do Bomb The Bass, de 1988. Era um grande megamix. Foi o disco que me fez querer comprar um sampler.

A prisão com o Planet em 1997 não fez o menor sentido. Toda aquela situação foi armada para cima da gente, que só queria fazer música, não apologia. Mas, passados quase trinta anos, vemos que o Planet estava à frente do tempo, com pautas que seguem atuais até hoje.

Quando o N.A.S.A. foi para o espaço, ficou um buraco. Fui morar em LA em 2003. Lançamos o disco em 2009, um trabalho atemporal, ao lado de artistas que nunca imaginei estar junto, como o George Clinton. E aí acabou. Foi doloroso.

Encontrei o Laudz um pouco depois de voltar ao Brasil. Ficamos parceiros rapidamente. Ele é muito mais novo que eu. No começo, nossa relação era quase de pai e filho. Depois, virou algo parecido com irmão mais velho. Hoje, temos nossa própria sintonia.

Caímos de paraquedas na Coreia do Sul e estamos curtindo muito. É uma indústria muito profissional, que vende milhões de cópias físicas e não é tão dependente do streaming. E uma música de k-pop pode ter elementos de trap, R&B, reggaeton, tudo junto. É uma mistura bem familiar para o Tropkillaz.

Estamos em Sintonia. E foi muito bom para a gente. Fazer trilhas foi descobrir um modo diferente de trabalhar. Adoro cinema e o trabalho de compositores como o Ennio Morricone.

A gente não está mais em pique de show. Nosso foco no momento é o primeiro disco. E tem agências que monopolizam o line-up dos festivais. Isso tem afastado a gente.

Pedir música para o DJ é sempre uma coisa complicada. Tem que deixar o motorista dirigir.

Tenho três filhas. Uma de 32, uma de 19 e uma de 11. Fui pai muito cedo, aos 21 anos. Quando fui pai pela segunda vez, vi coisas que tinha perdido e busquei recuperar. Aprendo com elas todos os dias. A mais nova é mais grudada comigo. Fomos juntos ver a Olivia Rodrigo no Lollapalooza.

O comercial da Apple foi uma realização. Mas a grande satisfação foi ver que uma música que fizemos em 2018, há sete anos, continua bem atual.

A idade não traz necessariamente sabedoria. Acho que ela ensina a se importar só com o que interessa mesmo, o que não deixa de ser uma sabedoria. Hoje, por exemplo, acho o tempo muito mais valioso do que antes.