Minha relação com a arte e com a moda surgiu simultaneamente, ambas ligadas à música, em especial ao rap, por volta dos meus 8 anos de idade. Desde então, essas três manifestações culturais — música, pintura e moda — têm sido pilares fundamentais na construção da minha identidade e expressão pessoal.
A moda, em minha trajetória, sempre esteve associada à cultura hip-hop. Essa ligação nasceu da minha vivência e do envolvimento direto com o movimento, especialmente a partir dos 12 anos, quando comecei a frequentar a Casa do Hip-Hop em São José do Rio Preto, cidade onde nasci.
O vestuário sempre foi uma extensão da cultura: lembro-me de usar as calças mais largas das lojas, tênis com cadarços duplos, bonés e camisetas customizadas por mim mesmo, além de cortes de cabelo que dialogavam com a estética da época. Mais de duas décadas se passaram e, embora algumas coisas tenham evoluído, a essência permanece. Continuo utilizando roupas largas, mas hoje, em vez de customizar as peças manualmente, realizo colaborações com marcas.
Meu processo criativo e de pesquisa está profundamente vinculado à investigação de símbolos que sintetizam manifestações culturais dentro da ideia de civilização. Entendo cultura como a repetição simbólica de rituais, objetos ou ideias por um grupo em determinado tempo e espaço — algo que se torna parte de um imaginário coletivo. Nesse sentido, vestir-se é, para mim, um ato cultural. A escolha de uma peça de roupa reflete uma construção compartilhada, um diálogo entre identidade individual e pertencimento coletivo. A moda, portanto, é uma linguagem e uma poderosa forma de expressão.
O skate também exerceu influência significativa sobre meu modo de vestir. Recordo-me do impacto que tive ao assistir, ainda adolescente, ao filme Kids (Larry Clark, 1995) e de como os personagens representavam com autenticidade as marcas mais legais da época. Essa experiência me levou a compreender que a escolha de roupas e marcas deve estar fundamentada em um sentido além do estético.
Gosto de marcas e artistas que desenvolvem uma linguagem própria, subversiva — seja a partir de um viés espiritual ou político, tanto no micro quanto no macrocosmo.