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Brian Chesky, CEO do Airbnb: “Queremos estimular as pessoas a sair do celular e viver”

Direto de Los Angeles, o cofundador da plataforma fala à Esquire Brasil sobre o novo momento do Airbnb, que aposta em experiências reais, tempo de qualidade e serviços sob demanda

O Airbnb anunciou, em maio, uma das reformulações mais ambiciosas de sua história. Mais do que uma plataforma de hospedagem, a empresa quer se consolidar como um hub completo de hospitalidade, integrando diferentes aspectos da experiência de viagem e além dela, no dia a dia.

A nova fase da marca é composta por três pilares principais:

  • Serviços no Airbnb: uma nova seção do app que permite agendar, mesmo sem hospedagem, profissionais como chefs, personal trainers, cabeleireiros, maquiadores, massagistas e fotógrafos. Ainda não disponível no Brasil.
  • Experiências com curadoria local: conduzidas por moradores e criadas com identidade própria, em mais de 560 cidades, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro.
  • Airbnb Originals: vivências autorais desenvolvidas exclusivamente para a plataforma por nomes reconhecidos, como atletas e artistas: de um churrasco com Patrick Mahomes em Kansas City a uma aula de vôlei com Carol Solberg na Praia do Leblon.

Além disso, o aplicativo foi inteiramente redesenhado, com interface em 3D, itinerários integrados, mensagens com compartilhamento de mídia e sugestões personalizadas com base em reservas anteriores, companhia de viagem e destino.

A Esquire Brasil esteve em Los Angeles para conhecer as novidades em primeira mão. Em entrevista exclusiva, o CEO e cofundador Brian Chesky falou sobre o novo momento da empresa — e por que, para ele, o futuro da hospitalidade passa pela valorização do tempo e das conexões reais.

 

Brian Chesky. (Divulgação Airbnb)

 

Confira:

Você disse em seu discurso que os seres humanos são fundamentalmente bons e 98% iguais. O que fez você chegar a essa conclusão?

Porque anatomicamente somos. A ciência pode provar esse número. Claro que existem os “maus atores”, mas a máxima de “tratar os outros como queremos ser tratados” é natural para a maioria dos seres humanos. Já viajei por mais de 100 países e a hospitalidade é algo nato. Em todos eles, tem uma Coca-Cola, por exemplo. Temos muito mais em comum do que o contrário. Claro que existem maneiras de se educar e melhorar isso, mas todo mundo sabe receber alguém e gostaria de ser bem recebido. Temos uma plataforma enorme de dados que comprovam isso: mais de 2 bilhões de pessoas já usaram o Airbnb e as boas experiências são maioria.

 

Vocês são uma empresa de tecnologia. Como vocês conciliam o avanço da vida no digital com o desejo de promover conexões reais?

Olha, essa não é a primeira vez que a sociedade passa por uma grande mudança tecnológica que muda nosso jeito de viver. A diferença é que antes isso levava gerações para se implementar. Agora, leva poucos anos. Ainda que sejamos uma empresa de tecnologia, a nossa missão é usá-la para aproximar pessoas na vida real. O nome “inteligência artificial” já diz tudo: artificial. Nós vamos pelo caminho contrário, para o real. Queremos estimular as pessoas a sair do celular e viver. E acho que estamos encontrando uma maneira de revolucionar o jeito que a gente vive através do poder e da necessidade dessas conexões.

 

De onde veio o insight de que o tempo — e não a casa ou o carro — é o bem mais valioso das pessoas?

Quando criamos o Airbnb, a ideia que norteava o negócio era a possibilidade de as pessoas monetizarem em cima do seu bem mais valioso: a sua casa. No pensamento comum, o próximo bem material valioso seria um carro. Foi quando entendemos que, na verdade, o bem mais valioso das pessoas é o tempo — e não é material. Esse insight já existe há uns 10 anos e ainda não tínhamos encontrado o caminho ideal para tirar do papel. Tentamos as experiências antes, mas com a pandemia acabou não rolando da melhor maneira. Com esse novo olhar, a conexão fica mais genuína. Você pode vender algo que é, ao mesmo tempo, prazeroso e valioso.

 

Brian Chesky. (Divulgação Airbnb)

 

O que motivou a entrada do Airbnb no universo de serviços?

Começamos com 10 serviços, mas temos uma lista de mais de 100 categorias que poderíamos começar a implementar. Não sei se vamos chegar lá, mas acredito muito neste modelo de negócio. No mundo de hoje, a maioria das pessoas trabalha na área de serviços. Então, as possibilidades de explorar essa área são infinitas. Os serviços de fitness, por exemplo, são negócios multimilionários — por que não oferecê-los dentro do Airbnb? À exceção da fotografia, que acredito que ainda é mais voltada ao turismo, todos os outros serviços podem ser usados na sua própria casa.

 

Acredita que os serviços e o Airbnb Originals são uma tática para aproximar a empresa do universo de luxo?

Somos uma das poucas empresas que realmente conseguem atender tanto um consumidor comum quanto o de luxo. A maioria das marcas foca o produto em um nicho mais delimitado. Nós não. Queremos ser acessíveis, então conseguimos “baratear” os serviços, por exemplo, juntando um grupo de pessoas e dividindo o preço da hora de um personal trainer. Ao mesmo tempo, posso oferecer um personal trainer para uma só pessoa, se for a opção. De fato, com a curadoria das experiências Originals, queremos atingir cada vez mais o universo do luxo. As primeiras experiências com pessoas famosas como Patrick Mahomes e Sabrina Carpenter, por exemplo, são promocionais. Mas estamos trabalhando para ter chefs com estrela Michelin servindo comida na sua casa.

 

Como você vê o Brasil na estratégia global do Airbnb?

Lançamos no Brasil em 2012 e tivemos um crescimento exponencial. É um mercado muito importante para nós. No início, o foco era em brasileiros que viajavam para sair do Brasil e, agora, notamos o crescimento de viajantes dentro do país. Acredito que os novos produtos tenham tudo a ver com esse momento. Planejamos levar a categoria de serviços ainda este ano para o Brasil.

 

Olhando para trás, você imaginava que o Airbnb teria o impacto socioeconômico que tem hoje?

Não. É muito difícil você imaginar um cenário que ainda não existe. Nós achávamos que íamos mudar o nosso próprio mundinho, mas não que teria esse nível de impacto — isso era inimaginável pra mim na época.

 

Brian Chesky. (Divulgação Airbnb)