“Está indo mais rápido do que qualquer um de nós jamais imaginou.” É o que diz um Mark Zuckerberg frenético (interpretado por Jesse Eisenberg) em A Rede Social, filme de 2010. A cinebiografia dirigida por David Fincher sobre os conflitos pessoais — e jurídicos — que marcaram o nascimento do Facebook em meados dos anos 2000 virou um clássico moderno. Quinze anos depois, as palavras de Zuck nunca soaram tão verdadeiras: as redes sociais passaram a moldar como pensamos, sentimos, compramos, nos relacionamos — e, acima de tudo… votamos.
É hora de reavaliar o impacto que o Facebook teve sobre todos nós — e parece que Aaron Sorkin, roteirista premiado com o Oscar por A Rede Social, concorda. Em 25 de junho, o site Deadline revelou que Sorkin está desenvolvendo uma sequência do filme, assumindo o roteiro e também a direção do novo projeto.
Segundo fontes do Deadline, o longa — intitulado A Rede Social – Parte II — será inspirado na série de reportagens “The Facebook Files”, publicada pelo Wall Street Journal em outubro de 2021. Os textos revelaram que o Facebook — e seu fundador, Zuckerberg, que largou Harvard para criar a plataforma — tinham plena consciência dos efeitos nocivos da rede sobre jovens e de sua influência nas eleições de 2020, mas optaram por não fazer nada a respeito.
Sorkin já havia dado pistas sobre o projeto em 2021, quando disse à The Hollywood Reporter que a história recente do Facebook “merece muito ser contada”. Em abril de 2024, no podcast The Town, voltado ao mercado de entretenimento, ele confirmou abertamente que está escrevendo um novo filme sobre a empresa — e que, em sua visão, o Facebook tem responsabilidade direta pela invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
“Eu culpo o Facebook pelo 6 de janeiro”, afirmou Sorkin. “A plataforma vem, entre outras coisas, ajustando seu algoritmo para impulsionar o conteúdo mais divisivo possível. Porque é isso que aumenta o engajamento. […] Em tese, o Facebook vive em constante tensão entre crescimento e integridade. Mas na prática, essa tensão não existe. É só crescimento.”
Embora o novo longa funcione como uma continuação de A Rede Social, ainda não se sabe se Jesse Eisenberg voltará a interpretar Zuckerberg — ou se algum outro ator do elenco original estará de volta. Zuckerberg cortou laços há muito tempo com seu ex-melhor amigo e cofundador Eduardo Saverin, vivido por Andrew Garfield em 2010. Ele tampouco mantém qualquer relação com os gêmeos Winklevoss, que o processaram e foram interpretados por Armie Hammer em um papel duplo.
Mas mais relevante do que a continuidade dos personagens é o potencial de Parte II para expandir o brilho de seu antecessor. Quando Fincher e Sorkin embarcaram no primeiro filme, o maior desafio foi convencer o público de 2010 a assistir a um “filme de época” ambientado em um passado ainda muito recente. Na época, o Facebook ainda era uma plataforma descolada voltada a universitários e adolescentes. Um filme sobre sua origem? Não parecia exatamente um “épico sociológico afiado” — e foi exatamente isso que Sorkin e Fincher entregaram. How Did They Ever Make a Movie of Facebook? (“Como conseguiram fazer um filme sobre o Facebook?”) é, aliás, o título do documentário oficial sobre os bastidores do longa, incluído nos extras do DVD.
Rever A Rede Social hoje é uma experiência quase assustadora. O filme não trata apenas de como as redes sociais transformaram nossas vidas em escala tectônica. Ele antecipa questões incrivelmente atuais: da solidão masculina aos relacionamentos tóxicos, da impulsividade juvenil à miopia dos mais velhos — sem falar, claro, na ganância típica do século XXI. “Um milhão de dólares não é legal. Sabe o que é legal? Um bilhão de dólares”, diz a icônica frase de Sean Parker, fundador do Napster, interpretado no filme pelo ex-integrante de boy band Justin Timberlake.
Quanto a A Rede Social – Parte II, é difícil imaginar essa história sem o olhar preciso de David Fincher e seu talento para criar tensão mesmo em cenas em que tudo o que acontece é uma conversa. Ainda assim, Sorkin está disposto a nos ajudar a entender o que diabos aconteceu nesses últimos 15 anos — e como nos preparar para os próximos 15. Isso se a gente chegar lá.
Essa matéria foi originalmente publicada na Esquire US.