Paul Mescal e Josh O’Connor são dois dos grandes atores da sua geração. Nomes por trás de papéis emblemáticos de filmes autorais, como “Aftersun” (2022), de Charlotte Wells, e “Rivais” (2024), de Luca Guadagnino, eles guardam na sutileza de ser uma profundidade para personagens masculinos nada óbvios. Por isso, não é de se espantar a escolha de ambos para viver um amor impossível no melancólico “A história do som”, em cartaz na Mostra de São Paulo.
O drama de época é ambientado em diferentes períodos dos Estados Unidos, mas foca essencialmente no entre guerras do século passado. Nele, os atores vivem, respectivamente, Lionel e David, alunos excepcionais de música que se conhecem num conservatório na Nova Inglaterra. Apaixonados por folk music, decidem partir em uma viagem pelo interior de Maine para coletar registros de canções populares do período.

Nessa jornada de descoberta, eles desenvolvem uma relação amorosa que beira a romantização, estética e política – considerando o contexto. São como opostos complementares, desvendando os caminhos do coração, e entre acampamentos improvisados e pessoas desconfiadas do propósito da pesquisa, os jovens arranham algumas superfícies pessoais. De um lado, Lionel expõe suas ideias, desejos, pensamentos e sonhos de futuro; de outro, David esconde quase tudo. Mas isso não parece impedi-los de seguir viagem.
Após algumas semanas na função, David decide retornar para casa, dando margem para Lionel seguir um caminho oposto e ir buscar a fama tão acreditada pela família no exterior. Ele, então, se muda para a Itália e, depois, Inglaterra, atuando ainda como professor clássico. Suas cartas nunca respondidas cessam, mas a enfermidade de sua mãe o faz retornar às pressas para os Estados Unidos e embarcar em uma reconstituição do passado para entender o silêncio do antigo amor.

O diretor, Oliver Hermanus, reforça a densidade de seu filme por meio de elementos visuais não só precisos, mas também poéticos. Uma paleta de marrons e um fog constante dão a sensação de uma realidade tão perfeita que parece sonho. O roteiro de Ben Shattuck, baseado em dois de seus contos, “The history of sound” e “Origin stories”, reforça essa atmosfera misteriosa e literária. Portanto, a metáfora da reverberação da arte no corpo não é banal. As letras e melodias que, muitas vezes, substituem palavras de felicidade, sofrimento ou troca de estação, só confirmam o espaço etéreo da memória.

Mais um avanço, e vemos Lionel em um programa de rádio nos anos 1980, falando sobre música como o especialista e acadêmico que se tornou. Inesperadamente, recebe uma ligação desconhecida de alguém, que havia achado algo em seu porão: a maleta de gravações das músicas folk lá de 1919. Ele a recebe pelo correio, emocionado com um reencontro simbólico que escondia no meio dos cilindros uma mensagem do passado. E assim como a partícula musical que pode atravessar gerações ao tocar em uma superfície rugosa, o amor também encontra espaços temporais inexplicáveis. Um bálsamo para os românticos.
“A história do som” chega aos cinemas brasileiros em 19 de fevereiro.
 
											 
															 
			 
			 
			 
			 
							 
							 
											