Este artigo foi publicado originalmente na edição de janeiro de 2011 da revista Esquire, na edição intitulada “Meaning of Life” [O significado da vida]. Aos 89 anos, Robert Redford, o ator, ativista e diretor, morreu na manhã da última terça-feira, dia 16
Quando eu era criança, ninguém me dizia que eu era bonito. Gostaria que tivessem dito. Eu teria me divertido mais.
Você teria que ser desumano para não se sentir lisonjeado. Mas foi tão obsessivo, tão rápido, que parte de mim não confiava nisso.
A maneira de realmente saber se o engajamento de um artista com uma causa é sério é ver quanto tempo ele permanece nela depois que os holofotes se apagam. Você vê muitas celebridades mudando de foco. Passam do meio ambiente para os direitos dos animais, depois para obesidade ou qualquer outra coisa. Não tenho muito respeito por isso.
Houve alguns momentos tensos. Um personagem estranho e sombrio começou a me mandar presentes. Eles não paravam de chegar… O cara estava obcecado comigo e com Joan Baez. Eles usaram uma equipe da SWAT e binóculos de infravermelho, e nos expulsaram de casa. Pegaram o sujeito, ele era insano. Foi preso e morreu na prisão.
Tenho muita terra. Comprei porque tive um sentimento muito forte. Eu tinha pouco mais de vinte anos, e cresci em Los Angeles, onde testemunhei a cidade se transformar, deixando para trás a cidade que conheci quando criança. Ela perdeu sua identidade — de repente havia cimento por toda parte, o verde desapareceu, o ar ficou ruim — e eu queria sair. Fui para Utah porque não conhecia ninguém lá.
Velocidade. Sempre gostei de velocidade. Tenho um carro do qual não deveria falar, porque sou ambientalista, mas o Porsche Spyder 550 RS de 1955 é o melhor carro esportivo já feito.
Cara, é muito mais difícil. Estar realmente na natureza de forma pura, sem ser dirigido, sem estar ali como resultado de algum plano de marketing, simplesmente se encontrar puro na natureza — fiz um filme sobre isso, “Jeremiah Johnson” (1972) — não é fácil.
Às vezes, seu instinto não funciona.
Houve uma mulher que tinha uma obsessão nos anos 60. Ela me perseguia e me perseguia. Finalmente, encontraram uma arma na bolsa dela e a prenderam. Ela era viciada em drogas.
Estava num pequeno avião fretado, voando de Santa Fé para Santa Rosa, e os motores pararam durante nove minutos. Você abre a contagem regressiva. E então chega ao ponto de pensar no que vai sentir. Qual será a sensação? Eu ainda me pergunto.
Cresci em um ambiente bastante cínico. Todos os meus amigos pegavam pesado uns com os outros. Nós nos destruíamos com críticas, mas para mim isso era sinal de amizade. Se alguém pegava no meu pé, eu pensava: “Bem, acho que ele é meu amigo”. Acho que o Paul [Newman] e eu tínhamos esse tipo de relação.
Isso veio dos filmes, e veio dos personagens que interpretávamos. Personagens que você sabia que eram amigos porque se provocavam o tempo todo. Fazíamos pegadinhas um com o outro. Quanto mais elaborada a piada, melhor. E, claro, ninguém jamais admitia a piada. Se eu pregasse uma peça no Paul, nunca ouviria falar disso depois.
Nunca vou esquecer de um garoto que encontrei na escola primária, de quem gostava tanto quanto de ir à casa dele para nadar. Eu simplesmente não conseguia conceber a ideia de uma casa com piscina no quintal. Eu continuei amigo dele por causa da piscina ou porque realmente gostava dele? Não sei.
Quando criança, era muito ligado a esportes, e havia esses slogans: “Não importa se você ganha ou perde, o que importa é como joga”. Percebi que isso era mentira. Você podia ter o pior comportamento do mundo. Se ganhasse, não importava.
Ética escocesa: não perdoe facilmente. Acho que isso é negativo. “Ordinary People (1980)” foi sobre isso. Os escoceses são bem turrões. Vêm de uma terra difícil e têm mentes igualmente difíceis.
A vida é essencialmente triste. A felicidade é esporádica. Ela vem em momentos e é só isso. Extraia o sangue de cada momento.
Nada supera uma margarita. Em Los Angeles chega perto, mas você precisa ir ao Novo México ou ao Arizona para encontrar a planta certa de agave [planta do qual é feita a tequila].
Fale sobre o que você acredita e sente. Ou não. Você tem que viver consigo mesmo.
Humor. Habilidade. Inteligência. Atração sexual. Nessa ordem.
Às vezes olho para as mulheres nas capas de revistas no mercado: todas parecem iguais! Novo isso, novo aquilo, a melhor nisso — esqueça.
O mais próximo que aconteceu foi no festival, no final dos anos 80 ou em 1990. Eu estava entrando no Egyptian Theatre para a noite de abertura. Um homem do Tennessee havia dirigido até lá com a única intenção de me matar. Encontraram o homem perto da bilheteria com uma arma. Ele confessou. Disse: “Estou feliz por terem me pegado. Eu ia matá-lo”.
Seja lá o que for que desenha a natureza, o que a faz funcionar quando se observa de perto, isso é bom o suficiente para mim.
As coisas não funcionam tão bem como antes. Você sente raiva. Sou bastante afortunado por ainda conseguir fazer muitas coisas. Mas há uma inevitabilidade aqui.
As pessoas não lembram quem foram os críticos.