O ator Rupert Friend já viveu muitos papéis: foi vilão em “Homeland”, espião em “Hitman” e, mais recentemente, adentrou o mundo fantasioso de “Jurassic World Dominion”. Mas foi no caricato e encantador universo de Wes Anderson que ele encontrou uma nova forma de trabalhar — e de se vestir. Com projetos como “The French Dispatch” e “Asteroid City” no currículo com Anderson, Friend estrela também a segunda campanha da Montblanc dirigida pelo cineasta, a “Let’s Write”, que celebra o legado da caligrafia da marca alemã.
Entre todos os territórios explorados por Friend, este que une a experimentação de Wes Anderson e a tradição de Montblanc parece ser uma tradução natural de quem ele é como Rupert: o homem britânico que anota tudo à mão com sua coleção de Meisterstücks, mas não perde a oportunidade de vestir um costume completo para pegar um avião e honrar um hábito de antigamente.
Leia a entrevista exclusiva a seguir:
Esquire Brasil (EB): Você já trabalhou com o Wes Anderson em alguns filmes e curtas. Como começou essa relação?
Rupert Friend (RF): A gente era amigo… Bom, mais especificamente, nossas esposas eram amigas. Íamos juntos ao teatro em Nova York, vimos uma peça do Sam Shepard, saíamos para jantar… Gostávamos um do outro. Eu, pelo menos, gostava muito dele — não quero falar por ele. Um dia ele me disse: “Acho que encontrei algo em que a gente poderia colaborar”. Fiquei muito animado. Não fazia ideia do que seria — com o Wes, podia ser design, viagem, cinema, escrita — qualquer coisa. Mas tudo soava empolgante. Ele me convidou para ir à França e participar do “The French Dispatch”. Peguei um voo até Angoulême, onde estavam filmando. Quando cheguei, não havia outros atores, só o Wes e o diretor de fotografia. Perguntei: “Cadê todo mundo?”. E ele respondeu: “Ah, terminamos o filme duas semanas atrás. Estávamos só esperando você”. Fiquei chocado e pedi desculpas. E ele disse: “Não, você estava trabalhando, tudo bem. A gente achou que seria legal esperar por você aqui na França”. Era um jeito totalmente novo de trabalhar. Tinham reservado o hotel todo, com um chef só para gente. Nunca tinha feito um filme assim. Normalmente é tudo mais isolado: avião, hotel, trailer, set, de volta para o hotel, e depois para o avião de novo. Mas ali a gente vivia junto, comia junto, trabalhava junto, compartilhava vitórias e fracassos. Foi quando pensei: “É assim que eu quero trabalhar”. Me senti à vontade, sem precisar me proteger ou ter medo do processo. Depois disso, ele me chamou de novo para “Asteroid City”, “The Rat Catcher”, e então quis fazer um projeto só comigo, “The Swan”, do qual me orgulho muito. É uma história sobre bullying, algo muito importante para mim. É baseada num livro de Roald Dahl, que era meu autor favorito quando criança.
EB: A estética dos filmes de Wes Anderson — direção de arte e figurino — teve algum impacto na forma como você se apresenta fora das telas?
RF: Com certeza. O Wes é mestre em todos os aspectos do cinema, e o figurino dele influenciou muita gente, a forma como nos vestimos, como pensamos o figurino no cinema. Ele é muito corajoso nas escolhas. Penso, por exemplo, na personagem da Gwyneth Paltrow em “Os Excêntricos Tenenbaums”, aquele casaco virou icônico. É um risco grande, mas funciona. Quando fui fazer a primeira campanha da Montblanc dirigida por ele, em Berlim, pensei: “Vou tentar algo diferente”. Costumava viajar com roupas o mais confortáveis possível — provavelmente parecia meio desleixado. Dessa vez, decidi usar meu melhor terno e levar minha bolsa da Montblanc. Queria ver o que acontecia. Mudou tudo. Passei a comer diferente, andar diferente, viajar diferente. Me movia pelo mundo de outra forma. Foi muito interessante.
EB: E o voo foi de onde para onde?
RF: De Nova York para Berlim. Bem longo. Mas quis levar a experiência como se vivia antigamente. Os homens vestiam um terno completo, mulheres iam de vestido. Pois era sabido que você iria passar horas bebendo champanhe e comendo caviar — era de fato um evento. Neste voo, eu dormi e acordei preocupado em estar todo amassado, mas o interessante de quando você veste uma roupa de qualidade, um bom terno italiano por exemplo, é que eu acordei intacto.
EB: Este é um evento recente. Foi a partir daí que você passou a pensar mais no seu estilo?
RF: Eu gosto de me vestir de forma funcional. Penso que, se algo acontecer — o avião cair no meio da floresta, por exemplo —, eu não quero estar de calça branca. Gosto de sentir que estou sempre pronto para agir. Sou fã de roupas duráveis. Tenho um par de jeans feitos sob medida. Quando os recebi, eles eram duros, quase ficavam em pé sozinhos. Mas, quanto mais eu os uso, parece que vão tomando a forma do meu corpo. Claro, não é uma peça barata, mas dificilmente vai estragar — e, se estragar, dá para costurar e usar como novo. Tenho esse pensamento.
EB: Falando sobre a Montblanc, você tem o hábito de escrever à mão?
RF: Escrevo muito. Olha, eu não sou uma pessoa organizada, mas tenho muitas e muitas prateleiras cheias de cadernos — que, se eu precisar procurar algo depois, nunca vou encontrar, porque não catalogo nada. Ao mesmo tempo, eu costumo trabalhar em um projeto único do início ao fim, o que facilita. Sobre escrever à mão: não sei se você sabe disso, mas a parte da mão que você apoia no papel para escrever forma uma conexão física com as veias, o que torna o processo emocional, literalmente — algo que o ato de digitar não proporciona. Eu observo muito meu estado emocional a partir da caligrafia. Consigo entender se estou ansioso para tirar algo da cabeça ou se uma ideia está num fluxo mais calmo. Sempre volto às minhas anotações para lembrar da emoção que determinada ideia me despertou, observando minha própria letra.