Ser homem de meia-idade no sul da Califórnia é viver repetindo, com uma frequência um pouco alarmante: “É, virei esse tipo de mala mesmo.” Se você veio de outro lugar — algum canto mais pé no chão, comida de verdade, churrasco e pouca terapia — é provável que, morando aqui, acabe adotando um ou outro hábito de vida saudável. E aí seus amigos de infância nunca mais vão te levar a sério. Já testei de tudo: CrossFit, respiração consciente, diário da gratidão, essas modas todas. Algumas realmente me fizeram bem. Outras viraram tralha encostada que eu anunciei no OLX da vez (tô falando com você, tigelinha de bater matcha).
Esse ano, em especial, foi uma avalanche de rituais saudáveis com um leve gosto de vergonha alheia. Talvez por causa desse boom do pós-Covid, talvez porque a indústria do bem-estar tá a mil, talvez porque entrei nos 50 — e se eu quiser durar um pouco mais por aqui, já passou da hora de me cuidar. Só sei que 2024 foi um prato cheio pra quem quer vender saúde em potinho pra gente como eu. E pior: muita coisa funciona mesmo. Abaixo, uma lista incompleta dos tipos de mala que eu me tornei.
Você já viu no Instagram: uma pessoa bonita, com cara de paz interior, enfiada até o pescoço numa banheira de gelo, jurando que aquilo dói mas revigora. Pois é, agora eu sou esse cara. Comprei uma banheira dessas da marca Plunge — porque, pelo visto, banho gelado afeta sua capacidade de dar nome criativo pras coisas. Já tô há mais de um mês entrando nessa câmara de tortura todas as manhãs, por vontade própria. E o pior é que… gosto. Me sinto com mais energia, menos oscilação de humor, pele mais firme. E ainda ofereço aos vizinhos o privilégio de ouvir meu berro gelado logo cedo.
Como tudo que faz bem, a primeira vez é horrível. Seu corpo rejeita de imediato. Você perde o ar, treme todo e pensa: “Beleza, agora esses influencers estão só tirando sarro da gente.” Mas aí, depois de uns segundos, o corpo começa a reagir, a esquentar por conta própria. Bate uma euforia leve. A respiração acalma. Sim, são sintomas de hipotermia leve — mas e daí? Pensa no Leonardo DiCaprio soltando a tábua no Titanic. A pele dele tava ótima. Eu saí do cinema achando que ele tava com a inflamação zerada.
Curti tanto que já chamei amigos e vizinhos pra experimentar. Eles, por outro lado, pararam de me responder.
Também comecei a microdosar com cogumelo. Todo dia, de manhã, tomo uma goma com 0,25 mg de psilocibina — o princípio ativo daquele mesmo cogumelo que o D.A.R.E. (lembra?) chamava de “alucinógeno perigoso”. Esse negócio virou queridinho dos executivos de startup, e eu venho testando faz uns anos. No começo, comprava de um amigo de um amigo, que mandava as cápsulas escondidas dentro de fitas cassete da Whitney Houston ou do Michael Bolton. Pra despistar e porque ele curtia um charme.
Hoje, compro de uma marca chamada Psilouette — aparentemente cogumelo bom melhora sua criatividade em naming. As gominhas vêm bonitinhas, parecem até suplemento oficial. Microdoso quase todos os dias. E tenho que admitir: os chatos estavam certos. Não tem viagem, não vejo fractal, o céu não respira junto comigo. (Tá, uma vez tomei duas seguidas por engano e acabei no quintal ouvindo os três primeiros discos do R.E.M. enquanto chorava de leve olhando pro sol.) Mas fora isso, é só um leve relaxamento. É como se o Whole Foods lançasse um ansiolítico.
Em algum momento da vida, o homem americano desenvolve uma obsessão com testosterona. E esse momento começa… no nascimento. Então, claro, surgiram mil empresas focadas em turbinar o T da rapaziada. A que mais curto se chama Blokes. Eles mandam alguém na sua casa tirar seu sangue, fazem uma bateria absurda de exames e depois dizem o que tá errado — ou, no caso, “pessimizado”.
No meu atendimento por Zoom, o médico da empresa me disse que meus níveis de testosterona estavam até bem bons pra minha idade. Minha primeira reação foi: “Ótimo, vou botar isso na coluna.” Ainda assim, ele sugeriu uma melhora: me indicou um peptídeo chamado sermorelina, que estimula a hipófise, mais umas injeções e um spray nasal de NAD+, que teoricamente faz alguma coisa nas células — não lembro o quê, porque eu tava ocupado demais curtindo a notícia do meu T alto. Enfim, agora aplico injeção toda semana, dou umas fungadas no spray, e sinto: durmo melhor, penso com mais clareza e fico bem mais difícil de escapar de mim em festas. Você vai perceber como estou centrado quando eu te puxar de canto e começar a contar, de novo, minha história com a testosterona.
Resumo: quase tudo que essas práticas prometem — mais energia, sono de qualidade, menos estresse, humor melhor — acontece mesmo. Mas tem um detalhe: dá pra conseguir tudo isso também não bebendo álcool. Coisa que, sejamos sinceros, em ano de eleição é pedir demais.
Mas o que eu sei? Não sou médico. Só sou um cara com a testosterona surpreendentemente alta.
Essa matéria foi originalmente publicada na Esquire US.